AzeraAccord e Passat. Desde 2007, quando a primeira geração do Hyundaidesembarcou no Brasil com aquela cara de carro da máfia russa, que estes três senhores aparecem como alternativas para quem prefere um sedã mais para o grande do que para o médio, em vez de um membro da tríade alemã – leia-se AudiA4BMW Série 3 e Mercedes-Benz Classe C – nas versões de entrada. São maiores, mais espaçosos e trazem algo bem próximo do ápice que suas marcas podem oferecer em termos de tecnologia, motor e, claro, requinte.
Hoje com preços na casa dos R$ 150 mil, os três refletem o status óbvio que seus portes sugerem, sem dar o ar aristocrático do trio premium alemão. Não vendem tanto quanto o Série 3 e o Classe C (esperaremos o novo A4 para julgá-lo), no entanto sempre há uma demanda reprimida daqueles que preferem passar mais despercebidos no trânsito, e viram os olhos para essa espécie de andar de baixo do sedãs mais caros. E a prova cabal está aqui. 
Em uma manhã de dezembro, a Honda renovou o estilo do Accord, e de maneira tão bem produzida que você nem lembrará do carro sem graça que ele era quando a sua última geração chegou em 2013. Ele abandonou o motor 2.4 de quatro cilindros e agora vem apenas na palpitante configuração V6 3.5. Na tarde do dia seguinte chegou na redação da C/D a nova geração do Passat, com plataforma modular MQB, interior de carro do futuro e uma configuração de propulsão igual à do Golf GTI (!). E para estabelecer um parâmetro entre eles elegemos o Hyundai Azera, mais vendido deste segmento em 2011, para definir: qual dos três chegou melhor até aqui?
3º lugar – Hyundai Azera
Azera x Accord x Passat
Curvas incríveis e vincos ousados para um sedã marcaram a chegada da nova geração do Azera, em 2012. De lá para cá, nenhum outro carro desse porte navegou por tão ousada rota. Talvez por isso o Azera só fique atrás de Classe C,Série 3 e A4 nas vendas. Claro que você pode pôr na conta deste sucesso os cinco anos de garantia de fábrica e a manutenção mais barata do segmento. Afinal, mesmo quem tem R$ 157.900 para gastar detesta perder dinheiro.
No entanto essa parte prática não se livra do poder do tempo. De 2012 para cá ele passou por uma leve reformulação de estilo em janeiro de 2015. Teve grades e para-choque dianteiro trocados, e o seu para-choque traseiro ganhou saídas de escape chamativas. Os LEDs nos faróis dianteiros até poderiam dar um ar de vanguarda ao carro, como a Hyundai desejou, mas no fundo, no fundo, foi como colocar um telão 4K de 200” no topo da pirâmide de Gizé. Ela não ficaria mais nova por causa disso.
Azera x Accord x Passat
É evidente que o Azera, apesar da idade do projeto, tem mais benesses do que reveses. Ao entrar no carro você já se depara com couro de qualidade acima da média. Há até uma musiquinha que o recepciona, algo impensável na cabeça dos marqueteiros de Honda e VW, e dá para gravar a posição do ajuste dos bancos elétricos, outra exclusividade. Ele vem de série ainda com um teto solar panorâmico e a reestilização de 2015 lhe deu um novo sistema multimídia, com tela de 8” bem fácil de mexer.
Os passageiros também não têm motivos para sair do banco traseiro. O espaço é uma arma pesada no Hyundai. Três adultos se acomodam de maneira confortável, muito pela solução de assoalho quase plano (o degrau traseiro tem 8 cm) e pelo encosto ser um pouco mais inclinado para trás. É como sentar em um sofá reclinável.
Azera x Accord x Passat
DATILOGRAFIA
As suspensões não são exatamente macias, mas estão longe de incomodar, e em curvas mais acentuadas mostram um carro neutro, sem a intenção de assustar ninguém. Só que todo esse conforto deveria vir junto de certas vantagens que quem paga tanto não abre mão. E isso está intimamente ligado a desempenho, força, enfim, sair na frente dos outros.
E isso é tudo o que o Azera não trouxe. Nem hoje, nem nunca. A começar pelo volante, que em vez de envolvido com couro, exibe acabamento plástico, imitando madeira. Está claro que ele só quer passear. O motor 3.0 V6 da família Lambda, apesar das inovações que recebeu em 2012, ainda não consegue mostrar talento que 250 cv deveriam ter. Ele é de uma escola que vem perdendo alunos a cada ano, como as de datilografia.
Azera x Accord x Passat
Enquanto o futuro aponta para os motores turbo, de menor cilindrada, mais ágeis e com torque em baixa, ele oferece 250 cv e míseros 28,8 mkgf de torque a longínquas 5 mil rpm. Alie isso ao peso de 1.581 kg que é obrigado a puxar e pronto. Você tem uma espécie de Landau da nova era.

HYUNDAI AZERA

  • Espaço interno, acabamento, desenho, consumo

  • -  Motor, câmbio, desempenho, sensação de carro pesado

  • Perdeu tempo no desenho e esqueceu do desempenho

O desempenho é tão distante de seus pares do segmento que no 0 a 100 km/h, um prova relativamente curta, a diferença dele para o Accordficou em três segundos. E saiba que o Honda está longe de ser um exemplo de modernidade nesse mundo. Pelo menos o Azera vai bem no consumo em estrada, fruto do diferencial longo da transmissão, outro que impede que ele atravesse o tempo sem ser lembrado como um carro que esperou demais por uma nova geração. E ela só deve ficar pronta em 2018. É tempo...
Azera x Accord x Passat


2º lugar – Honda Accord
Azera x Accord x Passat
Os mais antenados perceberão que não se moveu um centímetro da distância entre os eixos (2,77 m) e que esses para-choques que lhe dão 2 cm extras são mais um trabalho de design que de engenharia. No entanto, o segundo Honda mais vendido do mundo perdeu aquela cara cansada para parecer um carro 100% novo.
O capô traz quatro vincos profundos, dois de cada lado, que junto da barra cromada no topo da grade, criam uma identidade moderna raramente vista em um simples facelift. Na traseira as lanternas foram esticadas para cima, como se faz nos sedãs da BMW, e o para-choque recebe recortes e apliques cromados. A iluminação de LEDs também faz diferença.
Azera x Accord x Passat
Está tão audacioso que houve até quem tenha parado a reportagem da C/D para perguntar se esse era o novo Civic. Há demérito ser confundido com um carro menor? Nenhum. Afinal, é o Civic que vai abrir caminho para um futuro promissor para a marca, com motores mais eficientes e atualizará as soluções de desempenho e aerodinâmica. Inclusive para o Accord.
Vale lembrar que não é só por fora que a vida dos donos de Accord ficará melhor. Lá dentro as forrações de portas, painel e material utilizado na confecção do console foram substituídos por outros, menos rústicos. O Accord anterior parecia ter peças de Civic/CR-V com alergia a camarão. Elas eram parecidíssimas, só que inchadas para caberem no grandalhão. Mudaram também o formato dos pedais e o encosto do banco traseiro, que ficou mais envolvente.
COBERTOR CURTO
Azera x Accord x Passat
De resto, tudo segue na mesma. E aí que está o problema. As soluções do carro lançado em 2013 – quando, por exemplo, a Honda trocou a suspensão dianteira multilink pela McPherson – continuam intocadas. O maior barato do sedã ainda é a câmera abaixo do retrovisor do lado do passageiro. Você dá seta e a imagem, sem pontos cegos, aparece na tela do multimídia. É legal para impressionar o seu cunhado, mas olhar para o retrovisor quando se muda de faixa é tão natural que a inovação soa como jogar sal no mar.
O que mudou pra valer foi o equipamento de multimídia. Agora ele tem o mesmo sistema adotado no lançamento do HR-V EXL, um carro de R$ 90 mil. E ele não é exatamente tão fácil de mexer quanto o dos concorrentes. Eu me incomodaria com isso se houvesse pago os R$ 156.300 pedidos pelo Accord.
Azera x Accord x Passat
Mas a grande benfeitoria que a Honda fez ao modelo que desembarca no Brasil foi tirar da sua vida o motor quatro cilindros 2.4. Agora só há o 3.6 V6, dono de um ronco que ninguém cansa de ouvir. Um rosnar rouco, metálico, que parece que não chegará ao fim. Apesar do excelente acabamento e construção impecável feita na fábrica da Honda nos EUA, é impossível não se ajeitar no banco quando o conta-giros ultrapassa 4.000 rpm e o torque se aproxima do ápice, em 4.900 rpm. É como aquele filme que você assiste inteiro para ver uma cena. Tem coisas que o tempo jamais apagará.

HONDA ACCORD

  • Motor, desenho, desempenho, direção

  • -  Consumo, tecnologia de propulsão, câmbio

  • Renovação tardia, era a hora de mudar de geração

Na pista ele atropelou os rivais. Seus 280 cv explodiram no asfalto e o levaram de 0 a 100 km/h em 6,8 s. As retomadas, porém, são levemente prejudicadas pelo câmbio de seis marchas mais longo que o necessário. Tudo para se encaixar em padrões de consumo de carros quatro cilindros. Mas, afinal, um carro que já tem um sistema de desligamento de dois cilindros não deveria precisar de mais artifícios para economizar, certo? Errado. Mesmo com toda essa parafernália ele foi o mais beberrão dos três. Uma clara indicação de que o cobertor está curto, encolhido pelo tempo.
Azera x Accord x Passat

1º lugar – Volkswagen Passat
Azera x Accord x Passat
Caráter e personalidade sempre foram marcas do Passat desde 1973, ano de seu lançamento mundial, quando ele ainda era um cupê de duas portas, sonho da juventude riponga. Mas, cá entre nós, nos últimos 10 anos, no lançamento da sexta geração, ele se tornara mais um na multidão de VW. Suas vendas despencaram, tanto que os alemães de São Bernardo do Campo (SP) pensaram cem vezes antes de decidir trazer a nova geração. Que bom que ela veio. Que bom que chegou logo.
Passat não venceu por reerguer sua imagem. Foi por ter feito isso aliando ao novo formato soluções singulares, daquelas que você acha que estarão no seu carro 0 km em 2020. Indo por partes, repare que ele parece mais largo (1,4 cm) e baixo (1,2 cm). Sim, essas coisas aconteceram, mas em proporções bem menores do que os olhos informam.
Azera x Accord x Passat
A plataforma modular MQB permitiu que a engenharia de Wolfsburg projetasse um espaço mais baixo para o motor. Assim, a grade ficou mais larga e um tanto achatada, como era naquele belíssimo exemplar em 1973. Suas rodas estão mais perto das extremidades e o para-brisa foi recuado, aumentando a sua imponência. Algo que não víamos há muito tempo no Passat.
O carro aumentou em 7,9 cm a distância entre-eixos, o que resultou em 3,3 cm de ganho real na cabine. Some a isso um painel mais curto e uma ancoragem perfeita dos bancos, e pronto. Está aqui o interior que todos os carros deveram imitar. Seus bancos mantiveram a tradição do couro costurado em faixas horizontais e o volante está mais direto do que sempre foi.
Azera x Accord x Passat
DE VOLTA PARA 2005
Nesse passo firme rumo ao futuro, a VW abusou. Aplicou ao sedã a modernidade do Active Info Display, o mesmo do Audi TT. O equipamento é de série e leva você a crer que virou um geek, mesmo tendo dificuldades para entender as funções do WhatsApp. Com ele você pode dirigir com o mapa do GPS entre os instrumentos (velocímetro e conta-giros), que ficam projetados nas extremidades. Ah, ao contrário do TT, que parece ter sido roubado, no Passat o sistema Discover Pro com tela de 8” vai pendurado no console central.
Poderíamos gastar folhas e folhas falando sobre as inovações estruturais que tiraram dele 24 kg, a aplicação da segunda geração do controle dinâmico de chassi – como nos Porsches –, os sistemas de segurança, que incluem frenagem automática em caso de acidente e um sistema que impede colisões a baixas velocidades, por ter sido isso o que jogou seus concorrentes de volta para 2005. Mas o que importa mesmo está sob a carcaça: motor e câmbio de Golf GTI!
Azera x Accord x Passat
Tudo bem, tudo bem, ele não foi o mais rápido, nem o que retomou arrancando o asfalto do chão. Mas as sensações de guiar com 35,7 mkgf à disposição 20 metros depois de sair da inércia devem ser degustadas. O câmbio trabalha com destreza e o bloqueador eletrônico do diferencial o joga de volta para dentro da curva se a frente escapar.

VOLKSWAGEN PASSAT

  • Motor, câmbio, controle de tração, direção, espaço interno, consumo, porta-malas

  • -  Teto solar e sistema multimídia são opcionais

  • A prova de que o tempo é o melhor remédio

Suas suspensões, também refeitas, têm bitolas 3 cm mais longas e como as rodas estão nas extremidades do carro a sensação é de que seus pneus vão além da carroceria. O equilíbrio foi duplicado. Tal mar de inovações vem acompanhado de um instinto racional. Se você para de acelerar como um de nós, consegue fazer 14,7 km/l de gasolina na estrada!
Azera x Accord x Passat
Consumo de carro popular. Desempenho de esportivo. E mais barato que a concorrência. Uma junção de números que só o tempo dirá quando os rivais alcançarão.
Azera x Accord x Passat[Clique para ampliar]
Azera x Accord x Passat
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